Revista Oeste: CARTA AO LEITOR - Capa da Semana

10/02/2023 11:28

CARTA AO LEITOR

O destino incerto dos mais de 900 manifestantes que permanecem presos em Brasília desde 9 de janeiro está entre os destaques desta edição

Redação – Revista Oeste

“Hong Kong inicia maior julgamento contra ativistas pró-democracia.” Este é o título de uma reportagem publicada na segunda-feira 6 pelo portal UOL. No texto, o site especifica o número de réus desse julgamento recordista: 47.

Alguma inveja dos brasileiros certamente sentiram os chineses que descobriram a façanha ocorrida na América do Sul. No Brasil, foram encarcerados numa única operação policial nada menos que 1.398 manifestantes “antidemocráticos” — adjetivo criado pelo Supremo Tribunal Federal e avalizado pela imprensa velha. Dos 916 que permanecem atrás das grades, quatro têm mais de 70 anos. Outros 20 já passaram dos 60. E a média de idade entre as mulheres é de quase 50 anos.

Se em Hong Kong a turma dos “ativistas mais proeminentes da cidade” inclui um acadêmico e um ex-parlamentar, no Brasil, ela tem outra composição: donas de casa, aposentados, comerciantes, eletricistas, professores, advogados, até desempregados. Para abrigá-los de uma vez só em dois presídios da capital, um mundaréu de criminosos comuns foi dispensado de dormir numa cela.

Manifestantes detidos em Hong Kong

Manifestantes detidos em Hong Kong | Foto: May James/HKFP

Até então, a maior prisão em massa realizada no país era a que atingiu o Congresso da UNE, em Ibiúna, em 1968. Na época, 750 jovens foram capturados. Os mais velhos não passavam dos 30 anos. Todos sabiam o risco que estavam correndo ao topar um encontro supostamente clandestino em pleno regime militar.

A grande maioria dos manifestantes de Brasília estava lá para protestar contra a eleição de um presidente, algo totalmente aceitável numa democracia. “Uma população desarmada não tem capacidade para dar um golpe de Estado”, afirma o jurista Ives Gandra Martins, ao desmontar a teoria de “golpe bolsonarista” na reportagem de capa desta edição, assinada por Augusto Nunes e Cristyan Costa. “Só com tanques, aviões e navios isso é possível.”

Certamente existem culpados na multidão dos presos em 8 de janeiro. O problema é que também há centenas de inocentes desprovidos de direitos elementares. É bem mais complicado sair da cadeia para quem não conhece sequer os motivos pelos quais está lá.

 

Boa leitura.

Branca Nunes

Diretora de Redação