Revista Oeste: CARTA AO LEITOR - Capa da Semana
CARTA AO LEITOR
O destino incerto dos mais de 900 manifestantes que permanecem presos em Brasília desde 9 de janeiro está entre os destaques desta edição
Redação – Revista Oeste
“Hong Kong inicia maior julgamento contra ativistas pró-democracia.” Este é o título de uma reportagem publicada na segunda-feira 6 pelo portal UOL. No texto, o site especifica o número de réus desse julgamento recordista: 47.
Alguma inveja dos brasileiros certamente sentiram os chineses que descobriram a façanha ocorrida na América do Sul. No Brasil, foram encarcerados numa única operação policial nada menos que 1.398 manifestantes “antidemocráticos” — adjetivo criado pelo Supremo Tribunal Federal e avalizado pela imprensa velha. Dos 916 que permanecem atrás das grades, quatro têm mais de 70 anos. Outros 20 já passaram dos 60. E a média de idade entre as mulheres é de quase 50 anos.
Se em Hong Kong a turma dos “ativistas mais proeminentes da cidade” inclui um acadêmico e um ex-parlamentar, no Brasil, ela tem outra composição: donas de casa, aposentados, comerciantes, eletricistas, professores, advogados, até desempregados. Para abrigá-los de uma vez só em dois presídios da capital, um mundaréu de criminosos comuns foi dispensado de dormir numa cela.
Manifestantes detidos em Hong Kong | Foto: May James/HKFP
Até então, a maior prisão em massa realizada no país era a que atingiu o Congresso da UNE, em Ibiúna, em 1968. Na época, 750 jovens foram capturados. Os mais velhos não passavam dos 30 anos. Todos sabiam o risco que estavam correndo ao topar um encontro supostamente clandestino em pleno regime militar.
A grande maioria dos manifestantes de Brasília estava lá para protestar contra a eleição de um presidente, algo totalmente aceitável numa democracia. “Uma população desarmada não tem capacidade para dar um golpe de Estado”, afirma o jurista Ives Gandra Martins, ao desmontar a teoria de “golpe bolsonarista” na reportagem de capa desta edição, assinada por Augusto Nunes e Cristyan Costa. “Só com tanques, aviões e navios isso é possível.”
Certamente existem culpados na multidão dos presos em 8 de janeiro. O problema é que também há centenas de inocentes desprovidos de direitos elementares. É bem mais complicado sair da cadeia para quem não conhece sequer os motivos pelos quais está lá.
Boa leitura.
Branca Nunes
Diretora de Redação